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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

29 junho 2005

O FILME DO DIA - Lolita


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Lolita (EUA/GB, 1962, pb/1.66:1, *****) de Stanley Kubrick com James Mason, Shelley Winters e Sue Lyon – Drama (TCM, 20h05)

Com todo o desvelo, pinta-lhe as unhas dos pés. Sopra para secar o verniz. E beija-lhe cada um dos dedos. Ele é Humbert Humbolt (James Mason), meia-idade, escritor em crise de inspiração. Ela é Dolores Haze (Sue Lyon), 14 anos, mulher fatal avant la lettre. Em 1962, Stanley Kubrick pegava no romance de Nabokov e filmava uma das mais alucinantes histórias de desejo e perdição que o Cinema já nos deu, queda nos abismos de que nenhum de nós está a salvo. Obra-prima, pois claro!

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Outras sugestões:

- A conspiração do silêncio/Bad day at Black Rock (EUA, 1955, cor/2.55:1, *****) de John Sturges com Spencer Tracy, Robert Ryan e Anne Francis – Thriller (TCM, 22h30).

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- Criaturas ferozes/Fierce creatures (GB/EUA, 1997, cor/1.85:1, ***) de Fred Schiepsi e Robert Young com John Cleese, Jamie Lee Curtis, Kevin Kline e Michael Palin – Comédia (AXN, 22h30).

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- Dossier Pelicano/The Pelicano brief (EUA, 1993, cor/2.35:1, ****) de Alan Pakula com Julia Roberts, Denzel Washington e Sam Shepard – Thriller (Hollywood, 23h30).

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Bons filmes. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

28 junho 2005

Politicamente (in)correcto 1

Observação básica: há prostituição. Pergunta básica: porquê? Resposta básica: porque há mercado. Oferta e procura. Por um lado, condições socio-económicas adversas podem levar ao compromisso faustiano de vender a própria carne em troca da sobrevivência. E, mais do que o corpo, a renegar um projecto de vida – ou a sua hipótese. A prostituição é uma das facetas mais degradantes da condição humana, lá onde o amor-próprio rasa a estaca zero. Não é coisa bonita de se (vi)ver. Desiludam-se, pois, os líricos e as “tias” que guardem o frasquinho dos sais. Nenhum petiz irá, entre dois goles de leite, proclamar solenemente: “Quando for grande, quero ser prostituta(o)!”.

Numa nesga do outro prato da balança, a fascinante complexidade da vida: casamentos enviesados, rotas de solidão, busca de afecto, formas diferentes e inconfessáveis de viver a sexualidade. Mas o que realmente equilibra o fiel é o velociraptor que existe em nós, homens… e mulheres (?). Diz-me a experiência diária (pessoal e alheia…) que não podemos ver um palmo de pele sem que fiquemos logo com partes do corpo aos saltos. Está bem que as senhoras levam foguetes para a festa, estes calores de Verão a pedirem vestes mínimas. Mal iria o mundo se desviássemos o olhar, se o sangue não nos disparasse pelas veias à velocidade da luz. É de lei, são as regras da atracção, faz parte do código genético das relações humanas. E, todavia, eu queria acreditar que evoluímos um nadinha desde o tempo das savanas. Que, apesar da nossa natureza animal, aprendemos a usar o nosso grande cérebro para dominar os impulsos. Que, embora gulosos, temos discernimento quanto baste para estabelecer limites. Que o amor e o respeito devido ao nosso semelhante podem ser travão às grosserias que largamos boca fora, muitas vezes nas costas do Outro.

Posto isto, não tenhamos ilusões. A menos que o mundo dê uma grande reviravolta, a prostituição connosco nasceu e connosco há-de morrer. Em grande parte devido a este modelo de sociedade que construímos, patriarcal, que se revê na dominação do sexo oposto. Mas também porque, pese embora o meritório trabalho de organizações humanitárias que tentam dar rumos de vida a essas “mulheres da rua”, há aquelas que não querem ser resgatadas. “Habituei-me a isto, o que é que vou ficar a fazer em casa?”, dizia uma prostituta a uma jornalista do “Expresso”. Por ela e tantas outras, seria bom que nos abstivéssemos de puritanismos, que não teimássemos em varrer a realidade para debaixo do tapete. Que criássemos condições sanitárias e normas legais para garantir a segurança dessas profissionais, inclusive o direito à segurança social através dos impostos pagos com o árduo trabalho de satisfazer desejos e prazeres que não os seus. Isso sim, seria mesmo o triunfo do amor sobre o preconceito.

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

23 junho 2005

O corvo

Estando eu nos comigos de mim a divagar sobre a osmose de mundos, sobre realidades paralelas que se sobrepõem e mutuamente se fertilizam (ai aquela casa de banho, ainda a fazer das suas!...), pousaram os meus olhos sobre um dos livros seminais da minha adolescência: "O despertar dos mágicos", de Louis Pawels e Jacques Bergier. Grande parte do livro é dedicada a analisar as raízes esotéricas (bem!, eu queria escrever "esquizofrénicas"…) do nazismo e a erguer castelos no ar sobre civilizações desaparecidas, mundos paralelos e outras palermices. Aliás, na minha biblioteca tenho um metro e meio bem medido de literatura deste tipo. Num rapazola de 15 anos entediado dos bancos da escola, aquela resma de livros era como umas doses de Prozac. Para esquecer…

E, todavia, mora por lá uma pequena história que ilustra essa desorientação que todos sentiríamos ao entrar naquela casa de banho. É contada, na primeira pessoa, pelo antropólogo americano Loren Eiseley. Deixem-me partilhá-la convosco:

«Descobrir outro mundo não é apenas um facto imaginário. Pode acontecer aos homens. Aos animais também. Por vezes, as fronteiras resvalam ou interpenetram-se: basta estar presente nesse momento. Vi o facto acontecer a um corvo. Esse corvo é meu vizinho: nunca lhe fiz mal algum, mas ele tem o cuidado de se conservar no cimo das árvores, de voar alto e de evitar a humanidade. O seu mundo principia onde a minha vista acaba. Ora, uma manhã, os nossos campos estavam mergulhados num nevoeiro extraordinariamente espesso e eu dirigia-me, às apalpadelas, para a estação. Bruscamente, à altura dos meus olhos, surgiram duas asas negras, imensas, precedidas por um bico gigantesco, e tudo isto passou como um raio, soltando um grito de terror tal que faço votos para nunca mais ouvir coisa semelhante. Esse grito perseguiu-me durante toda a tarde. Cheguei a consultar o espelho, perguntando a mim próprio o que teria eu de tão revoltante…

Acabei por perceber. A fronteira entre os nossos dois mundos resvalara, devido ao nevoeiro. Aquele corvo, que supunha voar à altitude habitual, vira de súbito um espectáculo espantoso, contrário, para ele, às leis da natureza. Vira um homem caminhar no espaço, mesmo no centro do mundo dos corvos. Deparara com a manifestação de estranheza mais completa que um corvo pode conceber: um homem voador…

Agora, quando me vê, lá do alto, solta pequenos gritos e reconheço neles a incerteza de um espírito cujo universo foi abalado. Já não é, nunca mais será como os outros corvos…»

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Espero que se tenham divertido. Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

O FILME DO DIA - Horizontes de glória

Horizontes de glória/Paths of glory (EUA, 1957, pb/1.37:1, *****) de Stanley Kubrick – Guerra (Hollywood, 23h30).

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Num preto e branco cor de sangue, Stanley Kubrick dá-nos uma visão nauseabunda da luta de trincheiras na I Guerra Mundial. Um pelotão recusa-se a acatar uma missão suicida e os oficiais, na pessoa do Coronel Dax (Kirk Douglas), decidem dar o exemplo. Entre corpos mutilados e almas destruídas, fica a inquietação a assolapar-nos a consciência: nenhuma guerra dignifica os homens, apenas os transforma em cães selvagens. Uma obra-prima de visão obrigatória.

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Outras sugestões:

- A filha de Ryan/Ryan’s daughter (GB, 1970, cor/2.35:1, *****) de David Lean – Drama (TCM, 20h00).

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- Barton Fink (EUA/GB, 1991, cor/1.66:1, *****) de Joel e Ethan Coen – Fantástico/thriller (Hollywood, 21h00).

- Debaixo de olho/Stakeout (EUA, 1987, cor/1.85:1, ***) de John Badhan – Policial/comédia (Sic Mulher, 22h00).

- Como se conquista um milionário/How to marry a millionaire (EUA, 1953, cor/2.55:1, ****) de Jean Negulesco – Comédia (RTP Memória, 22h15). ATENÇÃO: Marilyn Monroe e Lauren Bacall andam por aqui à solta…

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Bons filmes. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

22 junho 2005

Filhos da lua cheia...


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Lembro-me. Eu e o João Artur na saleta da televisão, muito juntinhos no mesmo sofá, saltitantes a cada rajada de vento. A nortada de Verão, ali para as bandas do Montejunto, costumava bater forte e feio! Sozinhos, abandonados à nossa sorte naquela ala da casa, luzes apagadas, o preto e branco a enfiar-nos fantasmas goela abaixo. Dois putos de 14 anos, a hora do lobo, um filme sobre filhos da Lua cheia ainda mais putos que nós. Há-de ficar-me para sempre na retina esse travelling rentinho ao chão, a música melíflua e a arranhadela na perna do João quando um rapazinho, de joelhos e debruçado sobre qualquer coisa, se virou para a câmara e a boca escorrendo sangue nos gelou o nosso!...
Para chegarmos ao quarto foi um bico de obra. A perspectiva de atravessarmos salões e corredores desertos era, pura e simplesmente, aterradora. No fundo do sofá, não sabíamos o que fazer. Se dar parte de fracos e berrar por alguém, se pegar o touro pelos cornos. De forcados, porém, nada tínhamos. E negar as hormonas nascentes, isso estava fora de questão. "Vamos?" e enchemos o peito de ar para logo cairmos redondos, as molas do sofá a ajudarem à festa... Olhávamos para as portas da saleta e o escuro, lá atrás, era matéria de monstros e demónios. Apáticos, ouvimos o hino, o esvoaçar da bandeira a enxotar-nos dali para fora. Nem assim. A coragem só assomou, timidamente, com a "chuva" da televisão a desenhar novos espectros na alvura das paredes. Porra, ala que se faz tarde!
De pé, agarrados um ao outro, combinámos a estratégia de ataque. Descalçar os ténis (a chiadeira da borracha na pedra, não sei se estão a ver...), ir até à porta da direita, acender a luz, marcha-atrás, apagar a televisão, voltar à porta, a disputa sobre qual de nós atravessava a próxima sala para acender a luz lá do fundo, acabou por ir quem melhor conhecia os cantos à casa, a ver lobisomens e fantasmas em cada canto, "João, podes vir!", o clique do interruptor a subir-me pela espinha, "Dá cá um abraço, meu!" - e esta lenga-lenga por mais duas ou três salas, umas escadas e um corredor, até fecharmos a porta do quarto com as costas. Na manhã seguinte, foi bastante difícil explicar à Belmira porque é que só umas das camas estava desmanchada...
Isto tudo para vos convidar a, hoje à noite, sairem de casa e uivarem à Lua. Segundo a NASA, por arte de um qualquer David Copperfield cósmico, o nosso satélite vai estar redondinho e enorme que nem queijo da serra. Há 18 anos que não acontece. Acho que é espectáculo a não desperdiçar...
Bons uivos. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

21 junho 2005

Fuga...

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Esta fotografia chegou-me por mail e com instruções de uso. Um artista, entediado da vida, arregaçou as mangas e meteu-se a pintar a sua casa de banho. Desconheço as razões de tal escolha. Do ponto de vista estético, é perfeitamente legítimo e original. Ontologicamente, também. O artista é livre de escolher o suporte do seu labor.
No referido mail, sugeria-se que contratássemos esse pintor para decorar o WC lá de casa. Finda a obra, dáva-se uma festa, bebidas à discrição. A piada era quando fôssemos espreitar o DVD da câmara escondida e juntássemos mais uns gritinhos de terror à nossa colecção...
Discordo! Estou numa de egoísmo. Se fosse em minha casa, seria o meu cantinho privado e secreto, fechado a setenta vezes sete chaves. Um jardim das delícias onde recolheria após um enfadonho e estúpido dia de trabalho a meter dados no PC e a fazer cálculos idiotas de quantos bacalhaus restam ao nosso instinto predatório - e logo eu, que Matemática não posso nem vê-la. Bem vistas as coisas, uns minutos de fuga por dia nunca fizeram mal a ninguém!
Fiquem bem. Vemo-nos por ai...

20 junho 2005

O gato

Um gato – ou talvez fosse um cão. Ali, sem pingo de vida, numa das faixas de rodagem. Mesmo em frente ao Continente. Atropelado, provavelmente. Péssima maneira de começar o dia, esta. Autêntico murro no estômago a turvar a limpidez de uma manhã soalheira e cálida. Mais um e regurgitava o leite com chocolate que bebera minutos antes… Não consigo ficar impávido à morte de um animal, assim, em plena civilização. Morto por um carro. E não é nojo! É tristeza profunda. Como se a agonia do bicho se fizesse viva em cada uma das minhas células. E aqui é que está o problema, o busílis da questão. O meu corpo não reage assim à notícia do atropelamento de um simples e anónimo cidadão. Terão os telejornais das oito banalizado a morte humana a este ponto? Ou será apenas a consciência da nossa fragilidade, exposta a nu e tão próxima (ao alcance de um pneu, afinal...), a remexer-nos as entranhas? Qual crónica de uma morte anunciada...
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Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

17 junho 2005

O FILME DO DIA - O planeta proibido


O planeta proibido/The forbidden planet (EUA, 1956, cor/2.35:1, *****) de Fred M. Wilcox com Walter Pidgeon, Leslie Nielsen e Anne Francis (TCM, 20h00).



Num longiquo planeta, uma colónia terrestre deixou de dar notícias. Uma missão é enviada para investigar e vão deparar-se com uma verdade terrível. Tipico filme de ficção científica dos anos 50, é uma metáfora da ameaça soviética, muitas vezes mais imaginária que real. Robby, talvez o robot mais simpático dessa época, corporiza já o pressentido receio das novas tecnologias, ao sofrer de um erro conceptual que o faz viver um estranho e perigoso complexo de Édipo...



Outras sugestões:
- As pontes de Madison County, de Clint Eastwood (Hollywood, 18h00) - Drama (****)
- A baía das tormentas, de Louis Malle (Hollywood, 23h30) - Drama (***)
- O mundo do oeste, de Michael Crichton (RTP1, 00h15) - Ficção científica (***)




Fiquem bem. Vemo-nos por ai...

Contacto

A vaidade cega-nos. Olhamos para o próprio úmbigo e, helás!, eis o cú do mundo. Por isso, é bom ter amigos que ousem disparar sobre o balão e fazer-nos estatelar na terra chã do real. Com o ego na estratosfera, ia pôr-me a copiar os melhores textos do anterior blog quando o Nuno fez soar o alerta: o outro é o outro, uma tautologia evidente até para uma criança de colo. Se estou a erguer os alicerces de um novo lar, para quê ir esgaravatar no sotão da decrépita mansão? Vida nova, precisa-se! E obrigado, Nuno...

Agradeço as sugestões que, até agora, recebi. Uma delas é pertinente: a extensão dos textos. Vêm o cabeçalho do blog? No "setup", indica-se que não pode exceder 500 caracteres. Pois! Eu li, no entanto, 500 palavras. E vá de martelar o teclado, descuidando o metrónomo da escrita. Quando me dei por satisfeito, tinha quase uma página A4! Três mil e tal letrinhas! Corta, corta e corta... Consegui as fatídicas 500 palavras. "Copiar e colar", mas cabeçalho nem vê-lo. Pudera: até o programa informático que gere este site ficou entediado e, zás!, adormeceu. Mais umas batidas de claquete e 499 caracteres depois, ei-lo: sintético e eficaz! Acho eu...

Nem todas as situações, contudo, se podem medir pelo mesmo diapasão. Há temas que se prestam a ser mais palavrosos que outros. Estados de espírito que pedem tempo suficiente para se refazerem ao correr do texto. Falam-me da preguiça de ler. Talvez seja este o mal maior destes dias: não temos tempo nem paciência para o que quer que seja! E se o Miguel Sousa Tavares ocupa uma página inteira do jornal, está a escrever para marcianos? E o Lobo Antunes, para selenitas? Reparem: não vos aponto uma pistola à cabeça. Só lê quem quiser - se não, mandem-me dar uma curva.

Também me falaram da cor de fundo. Que é triste, sem luz, cheirando a velha. Sintoma maior da esquizofrénica sociedade de sucesso que pensamos habitar, plena de néons e sorrisos de plástico. É isso que quero evitar. Quero que este blog continue íntimo, confessional, uma carta que se escreve a um amigo ávido de notícias.

Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

16 junho 2005

Um novo alvorecer

O Verão está a dois passos... Tempo de renovação, de esperança no viço de vidas que despontam agora para a maioridade. Assim, também eu resolvi libertar-me do espartilho gráfico do anterior site e, qual pato deslocado no tempo, migrar para este novo lar. Tenho pena das malas perdidas (o papel é idêntico...), mas a vida é prenhe de mudanças, de tempos que passam e de opções que se tomam. Vou, com toda a paciência do mundo, copiar o que de melhor escrevi no anterior blog, para que todos saibam quem sou e ao que venho. Espero que me acompanhem nesta nova jornada.

Fiquem bem. Vemo-nos por aí...