O gato
Um gato – ou talvez fosse um cão. Ali, sem pingo de vida, numa das faixas de rodagem. Mesmo em frente ao Continente. Atropelado, provavelmente. Péssima maneira de começar o dia, esta. Autêntico murro no estômago a turvar a limpidez de uma manhã soalheira e cálida. Mais um e regurgitava o leite com chocolate que bebera minutos antes… Não consigo ficar impávido à morte de um animal, assim, em plena civilização. Morto por um carro. E não é nojo! É tristeza profunda. Como se a agonia do bicho se fizesse viva em cada uma das minhas células. E aqui é que está o problema, o busílis da questão. O meu corpo não reage assim à notícia do atropelamento de um simples e anónimo cidadão. Terão os telejornais das oito banalizado a morte humana a este ponto? Ou será apenas a consciência da nossa fragilidade, exposta a nu e tão próxima (ao alcance de um pneu, afinal...), a remexer-nos as entranhas? Qual crónica de uma morte anunciada...
Fiquem bem. Vemo-nos por aí…
2 Comments:
Interessante, o teu ponto de vista. Eu estava a ler e a pensar que talvez essa incómoda discrepância humano-animal tenha a ver com a sensação de inocência inerente a um animal (ainda por cima, um doméstico, "bonzinho") e a sensação de culpa (pecado?...) inerente ao bicho-homem. Aposto que se a visão for de uma criança já não consegues ficar indiferente... Pois é, quando é que os justos herdam esta Terra?
acho que nos sensibilizamos com a inocência e fragilidade de um animalzinho frente a uma máquina tão grande e fria, criada pelo homem.
mas é sempre bom manter viva a nossa sensibilidade para com as coisas que acontecem aos nossos iguais, né...
belo blog. abração.
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