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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

22 junho 2005

Filhos da lua cheia...


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Lembro-me. Eu e o João Artur na saleta da televisão, muito juntinhos no mesmo sofá, saltitantes a cada rajada de vento. A nortada de Verão, ali para as bandas do Montejunto, costumava bater forte e feio! Sozinhos, abandonados à nossa sorte naquela ala da casa, luzes apagadas, o preto e branco a enfiar-nos fantasmas goela abaixo. Dois putos de 14 anos, a hora do lobo, um filme sobre filhos da Lua cheia ainda mais putos que nós. Há-de ficar-me para sempre na retina esse travelling rentinho ao chão, a música melíflua e a arranhadela na perna do João quando um rapazinho, de joelhos e debruçado sobre qualquer coisa, se virou para a câmara e a boca escorrendo sangue nos gelou o nosso!...
Para chegarmos ao quarto foi um bico de obra. A perspectiva de atravessarmos salões e corredores desertos era, pura e simplesmente, aterradora. No fundo do sofá, não sabíamos o que fazer. Se dar parte de fracos e berrar por alguém, se pegar o touro pelos cornos. De forcados, porém, nada tínhamos. E negar as hormonas nascentes, isso estava fora de questão. "Vamos?" e enchemos o peito de ar para logo cairmos redondos, as molas do sofá a ajudarem à festa... Olhávamos para as portas da saleta e o escuro, lá atrás, era matéria de monstros e demónios. Apáticos, ouvimos o hino, o esvoaçar da bandeira a enxotar-nos dali para fora. Nem assim. A coragem só assomou, timidamente, com a "chuva" da televisão a desenhar novos espectros na alvura das paredes. Porra, ala que se faz tarde!
De pé, agarrados um ao outro, combinámos a estratégia de ataque. Descalçar os ténis (a chiadeira da borracha na pedra, não sei se estão a ver...), ir até à porta da direita, acender a luz, marcha-atrás, apagar a televisão, voltar à porta, a disputa sobre qual de nós atravessava a próxima sala para acender a luz lá do fundo, acabou por ir quem melhor conhecia os cantos à casa, a ver lobisomens e fantasmas em cada canto, "João, podes vir!", o clique do interruptor a subir-me pela espinha, "Dá cá um abraço, meu!" - e esta lenga-lenga por mais duas ou três salas, umas escadas e um corredor, até fecharmos a porta do quarto com as costas. Na manhã seguinte, foi bastante difícil explicar à Belmira porque é que só umas das camas estava desmanchada...
Isto tudo para vos convidar a, hoje à noite, sairem de casa e uivarem à Lua. Segundo a NASA, por arte de um qualquer David Copperfield cósmico, o nosso satélite vai estar redondinho e enorme que nem queijo da serra. Há 18 anos que não acontece. Acho que é espectáculo a não desperdiçar...
Bons uivos. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É o que dá a fertil imaginação de uma criança!
eu ainda sou assim e por isso não consigo ver filmes de suspense ou terror á noite! pois além de criativa e imaginária, a minha mente tem medo do escuro, desde pequena...
mas não digas a ninguém...

ainda hoje tenho na cabeça aquela música da série "o polvo", que não era de terror, nem de suspense, mas aquela música era terrorífica!

beijo
marinheiras

sexta-feira, 24 junho, 2005  

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