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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

30 maio 2006

Bolos com amor

Para que serve um blog? Apenas para bradar aos quatro ventos o narcisismo do seu autor? Para escrever umas trivialidades que o mundo bem dispensaria? Para impingir aos outros a gargalhada ou o pensamento do dia? Para escarrapachar aquela fotografia tão espectacular quanto inutil que recebemos por “e-mail”? Ou servirá, também, propósitos humanitários, de solidariedade, de amor e reconhecimento pelos nossos semelhantes?

Hoje, não estou cá! Dei férias à caneta... Venho apenas dar-vos conta de um "site" delicioso – vejam só, o ponteiro do rato é um reconchudo morango! Um projecto de alguém que, perante as voltas que a vida lhe teceu, não baixou os braços. Deu asas a um dom natural e criou uma empresa caseira que, oxalá!, se torne num caso de sucesso, com direito a “franchising” e tudo. Porque a criatividade e a inovação, palavrões tão queridos aos “gurus” da economia global, campeiam por ali, à desfilada. A provar que nem todos se arrastam pelos corredores do poder como lobos esfaimados, à caça dos milhões de Bruxelas...

O site é: http://bolosdacelia.blogspot.com/. Reproduzo, sem retoques, o “e-mail” que recebi e um texto da Célia, no seu site:

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“Olá! Para quem tem miúdos e faz festas de anos, aqui ficam ideias de bolos originais e com um aspecto óptimo! :o) Quem não tem crianças pode divulgar o mail na mesma, pois é para uma boa causa. A Célia tem um filho com problemas e não pode trabalhar para estar com ele. Como tal descobriu o dom dos bolos. Vale a pena ver o site. Bolos muito giros para todas ocasioes e a preços dos normais de pastelaria.”

“Os Bolos da Célia nos meios de comunicação

No passado dia 2 de Fevereiro de 2006 passei uma manhã diferente do habitual: tive o prazer de receber na minha casa uma equipa de reportagem da Sic e conversar um pouco com a jornalista Catarina Carvalho e o Edgar responsaveis por uma noticia que deu no Jornal da Sic da hora de almoço do dia 3 de Fevereiro.

Nesta pequena conversa muito agradavel tive o prazer de contar á Catarina qual a motivação para fazer estes bolinhos. Através de uma coisa menos boa da vida descobri que tinha uma vocação. Até então tinha um emprego na minha área de curso Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho, mas não me sentia completamente realizada.

Quando comecei a dedicar-me a este hobby foi exclusivamente pelo facto de não estar a trabalhar para me dedicar a 100% ao meu Miguelito que tem agora 3 aninhos e como nasceu de 31 semanas teve complicações que deixaram lesões cerebrais, que o afectam a nível motor, para toda a sua vida.

Graças a um pequeno hobby não só descobri uma vocação como fiz muitas amizades porque realmente a maior parte das pessoas que me pedem bolinhos se tornar rápidamente amigas. Mudei muito e agora tenho a certeza que tudo na vida tem uma razão de ser e temos que ver sempre o lado positivo da vida porque existem sempre situações muito mais graves que a nossa.

posted by Bolos da Célia @ 3/07/2006 02:00:00 PM”

E pronto, lá se vai a dieta e, gaita!, os lindos abdominais que tão duramente trabalhámos na miragem das férias à beira-mar plantadas!

Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

26 maio 2006

A termodinâmica, a cerveja e a saúde

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Em tempo de praia e futebol, quem é que não se pela por uma dúzia de bejecas fresquinhas e espumosas ali no bar em cima das dunas? Pois: é álcool e etc e tal, e faz barrigas redondas que nem pipas e etc e tal, e é mau exemplo para a juventude e etc e tal. Balelas! A cerveja é um maná para a saúde: emagrece-nos e, portanto, reduz o risco de AVC’s e etc e tal. Aqui vai a prova científica, pura e dura. Obrigado, David, pelo alerta!

“Pelas leis da termodinâmica, sabemos que 1 quilocaria (Kcal) é a energia necessária para aumentar em 1ºC a temperatura de 1 grama de água.

Não é necessário ser nenhum génio para verificar que, se um ser humano beber um copo (200ml) de água gelada a, aproximadamente, 0°C, usará 200 Kcal para elevar em 1º C a temperatura dessa água. Para haver o equilíbrio térmico com a temperatura corporal, são necessárias, aproximadamente, 7.400 calorias para que estes 200g de água alcancem os 37° C da temperatura corporal (200 Kcal X 37°C).

Esta é, então, a quantidade de energia necessária para manter a temperatura do nosso corpo a 37° C. A termodinâmica não nos deixa mentir sobre esta dedução. Assim, se uma pessoa beber um copo de cerveja grande (aproximadamente 400ml) a uma temperatura próxima de 0°C, ela perde cerca de 14.800 calorias (400g x 37°C). Não nos podemos esquecer de descontar as calorias da cerveja (aproximadamente 380 Kcal em 400ml de bebida).

Observa-se, portanto, que um indivíduo perde, aproximadamente, 14.420 Kcal com a ingestão de um único copo de cerveja bem gelada. Obviamente, quanto mais gelada for a cerveja maior será a perda calórica. Fica, por isso, claro que beber cerveja gelada é muito mais eficaz do que andar de bicicleta ou correr, actividades que queimam, aproximadamente, 800 Kcal por hora.

Amigos, emagrecer é muito simples, basta beber cerveja bem gelada, em grandes quantidades e deixarmos a termodinâmica cuidar do resto.

Saúde a todos!!! Eu vou já prá tasca emborcar...”

Não sei quem foi o génio que descobriu isto, mas fico-lhe eternamente grato. E, agora, se me dão licença, estou com muita pressa: a minha bejeca, com este calor, está a aquecer e a perder qualidades medicinais.

Bebei, senhoras e senhores, até cairdes para o lado. Em nome da vossa saúde. Vemo-nos por aí...

25 maio 2006

Homo sapiens - Auto-retrato

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Santa paciência! Eu, que para o desenho e artes correlativas, tenho menos talento que um chimpanzé, tremo que nem gelatina Royal só de pensar quantas horas e neurónios terá gasto o autor desta imagem, desde a faísca inicial até ao último retoque… Conjugação perfeita de espaço e forma, este zoo miniatura é como se fosse um espelho onde o nosso eu profundo se revisse, num vaivém de maré. Esta face interpela-nos, recorda-nos as nossas origens, faz-se eco da íntima ligação entre nós e todos os seres vivos da Terra, em cada traço aquela troca de segmentos espiralados que nos moldou ao longo de milhões de anos de evolução biológica. Por outro lado, todavia, queremos desviar o olhar, ao revermos aqui a selva que ainda pulsa em zonas recônditas do nosso cérebro, um mundo de dentes, garras e sangue que a civilização amainou – mas à espera de nos emboscar à mínima distracção.

Dizem-me que, com paciência de chinês, se descobrem trinta animais entretecidos uns nos outros. Pobre de mim, que só descobri vinte… Divirtam-se, que há uma bejeca para quem fizer o pleno!

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

21 maio 2006

I have a dream!

Lá no serviço, as sextas-feiras são o ponto alto da semana. Claro que a perspectiva de um merecido descanso de dois dias ajuda à festa. Mas o que, na tão feliz quanto insólita expressão de um de nós, nos traz "com a cona aos saltos" desde a tarde de quinta-feira é o ritual dos almoços na Rosinha, um restaurante ali para os lados do Cais do Sodré. Qual antiga sirene de fábrica, o ponteiro do relógio a raiar o meio-dia e saltamos das cadeiras, as frases e os cálculos deixados a meio, que isto de comes e bebes é sagrado e tem as suas horas...

Os queijinhos frescos encharcados em sal e pimenta, os torresmos, os "jaquinzinhos" fritos, as azeitonas em azeite, o pão leve e fofo, os "penaltys" de vinho da casa, as asneiradas encavalitadas umas nas outras, os chocos grelhados, o estado da Nação entremeado de um farto bacalhau com grãos, o bife à Rosinha, o arroz doce e os pudins - e, para serenar estômagos, um café com cheirinho de uma deliciosa e levitante aguardente de ervas que nos dá a ilusão de termos nos braços todas as mulheres com que sonhámos a cada garfada!

Adoro estes momentos de camaradagem e abandono à conversa vadia e marialva. Para quem se rotinou no esquema casa-trabalho, os almoços na Rosinha são fugas de mim mesmo, de uma realidade cinzenta sempre igual a si própria. Assim, ponho na mesa os 14 euros de cada comezaina com o mesmo vigor e entusiasmo de um jogador de bisca lambida.

Hoje, todavia, dia de Marcha Mundial Contra a Fome, pus-me a fazer contas. Entre os cinco, gastamos cerca de 70 euros por semana, 280 euros por mês em números redondos. Ora, segundo dados da ONU, custa 16 cêntimos por dia fornecer uma refeição escolar a uma criança com fome, qualquer coisa como 60 euros por ano. Se, durante um mês - um instante para nós, uma eternidade fatal para crianças famintas -, abdicássemos destas idas à Rosinha, poderíamos rasgar umas cinco fotografias como esta!

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Mas bem pode pregar Frei Tomás! O problema da pobreza, da fome e da prostituição infantil assentam todos na mesma raiz: a cupidez humana, o nosso congénito egoísmo. Queremos sempre mais... e, muitas vezes, mais do que aquilo que podemos ter. Apesar disso, a esperança habita-me. Acredito que é possível mudar o Mundo. Afinal, ainda há pouco mais de 60 anos parecia que tudo isto estava a caminho do esgoto e hoje, ninguém pode negá-lo, estamos incomparavelmente melhor. Em termos de assistência médica, em termos de desenvolvimento humano – mas, sobretudo, em termos de consciência humanitária. Há 60 anos, poucas pessoas se preocupavam com o que acontecia fora do seu quintal. Hoje, temos marchas contra a fome, a nível mundial. As pessoas despertaram, começam a aperceber-se de que, tal como diz o “slogan” do Rock in Rio, um mundo melhor é possível. Acredito nisso com todas as minhas forças e faço tudo o que está ao meu alcance para a concretização desse sonho colectivo. Afinal, é tão fácil: meio pão das mesas da Rosinha por dia!

Juntai-vos a mim no florescimento desta utopia!

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

19 maio 2006

Nirvana poético!...

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Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram. (...)
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade, in “O Amor Natural” (1992)

Quem disse que o sexo, o puro sexo, não podia inspirar o que de melhor há em nós? Quem teima em levar tudo para a pose escatológica de gemidos animalescos e pénis descomunais? A fotografia e o poema não são espelhos um do outro?... Ou o poeta estaria perdidamente apaixonado por uma qualquer musa inspiradora - e daí esta hossana? Será mesmo possível sexo verdadeiro, a entrega total ao outro, sem a alquimia do amor?...

Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

18 maio 2006

Uma sinfonia dos possíveis...

Naquele tempo, não éramos todos viciados em telenovelas. Nem a paranóia securitária semeava lampiões em cada canteiro de flores. Por isso, ao correr da noite que se desembrulhava sobre a planície, a sopa de beldroegas reclamava os seus vagares e sussurrávamos às estrelas os nossos desejos. À soleira da porta ou deitado nos bancos do jardim, de calções e tronco nu a entranhar a fornalha do dia, garoto feliz de olhos perdidos lá em cima, a boca cheia de perguntas - aí começou o romance entre mim e os fartos seios de Hera!

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Depois, fui aprendendo. Que o Sol é uma estrela e que as luzinhas no céu são outros sóis, só que muito, muito distantes. Que a Terra é um planeta, irmão de outros oito que valsam em redor do Sol, gosto de imaginar que ao som do Danúbio Azul de Strauss. Decorei os seus nomes e, fatalmente, deixei-me enfeitiçar por Marte. O Verão dos meus treze anos foi mágico. Pela primeira vez na História, fizemos aterrar dois veículos num mundo longínquo. Uma atrás da outra, as sondas Viking pousaram no planeta vermelho e eu vi-me, dois meses inteirinhos, dentro de um filme de "suspense". Dia sim dia não, pelos jornais da tarde (religiosamente comprados e recortados), Marte fazia-se vivo ou definhava, os canais de Lowell jorrantes de água ou uma princesa exalando o derradeiro suspiro, os seus olhos ao encontro dos meus no negrume do espaço – assim as análises químico-biológicas ao solo disparavam ou emudeciam os contadores das Viking. Sabemos hoje que Marte teve água no passado e que, afinal, os canais de Lowell eram resultado, não de uma titânica empreitada pela sobrevivência, mas do laborioso trabalho da Natureza. Os jornais, ávidos de notícias frescas, encenaram uma retirada estratégica e a minha primeira grande aventura de exploração e descoberta morreu na praia! Mas nem por isso as paisagens marcianas deixaram de ser menos empolgantes. O monte Olimpo, por exemplo! Do alto dos seus 24 quilómetros, é o maior vulcão do sistema solar. E as fotos tiradas pelo simpático "robot” Sojourner revelam-nos um quadro impressionista banhado de ocres e vermelhos.

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Dessa missão a Marte, ficou-me o fascínio pelo espaço e uma curiosidade insaciável. Apaixonei-me pela Ciência como meio de encontrar resposta para os enigmas que me queimavam os lábios. E, no fim da adolescência, tive a sorte de ver e ler Cosmos, de Carl Sagan. A minha Bíblia, humanista e visionário como poucos livros o conseguem, decisivo no travejamento final da minha personalidade, desta minha muito peculiar maneira de ser e estar na vida. Porque temperou com humildade a mente de um adolescente que, embora com enorme coração, tinha a verdade científica como infalível medida de todas as coisas. De facto, quase negando o seu título, Cosmos não é um livro de astronomia. É um poema sobre o Universo e as suas maravilhas – e sobre a íntima relação entre nós e esse Cosmos do qual nascemos e fazemos parte. “Pó de estrelas reflectindo sobre as estrelas”, assim nos define Carl Sagan. Essa humildade intelectual evoluiu para um profundo amor, para um gratificante deslumbramento por todas as coisas. Do mais remoto “quasar” ao sorriso de uma criança. Temos o dever de amar e defender tudo isto. Com todas as nossas forças e todo o nosso entendimento. Se estamos aqui, neste planeta (postos por Deus ou por Darwin, para o caso é irrelevante), seria um crime não sentirmos na pele a essência deste universo em que vivemos, que pode não ser perfeito mas é terrivelmente belo.

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Na “nave da imaginação” de Sagan rumei às profundezas do espaço. Visitei galáxias de todos os tamanhos e feitios; estrelas solitariamente vagabundas; sóis que pulsam como um farol; outros que desaparecem numa explosão gigantesca, colossais abismos no grande oceano entre as estrelas; nuvens interestelares de gás e poeira, embriões de sonhos futuros; sistemas planetários orquestrados pela elegância das equações de Kepler; mundos de gelo e de fogo; e, finalmente, este frágil globo azul, o lar planetário da nossa espécie - uma artimanha do Cosmos para se conhecer a si mesmo! E, hoje, temos naves verdadeiras a caminho das estrelas. Deram-nos as loucas tempestades de areia de Marte, a superfície engelhada de Ganímedes a revelar um oceano interior ou o azul-turquesa de Plutão. Embaixadores nossos na corte de Zeus, as sondas Pioneer 10 e 11 e Voyager 1 e 2 navegam agora na solidão do espaço interestelar, "robots" semi-inteligentes levando consigo saudações da Terra e dos homens. Oxalá por trás do brilho de uma qualquer estrela haja alguém à escuta!

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Chegámos longe, sem dúvida. Nos últimos 500 anos descobrimos tanto sobre o Cosmos e o nosso lugar nele! Mergulhámos do infinitamente pequeno ao infinitamente grande. Fruto do nosso esforço e da nossa perseverança, da nossa natural tendência para averiguar o porquê das coisas, temos vindo a construir a utopia de que um mundo melhor é possível. E é, de facto! Basta querermos e lutarmos por isso, contra a apatia de muitos e os interesses instalados de alguns. Por isso, recuso-me a acreditar que nada possamos fazer para que milhões de crianças não morram à fome todos os anos. Por isso, recuso-me a aceitar que, no nosso "portfolio", figurem imagens como a deste rapazinho indiano a carregar tijolos.

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Por isso, vos deixo aqui este apelo a esta marcha de cidadãos que ainda acreditam no futuro
(http://www.amnistia-internacional.pt/):

Marcha contra a Fome 2006

A Marcha Mundial Contra a Fome é uma manifestação global anual destinada a promover a sensibilização e recolher fundos para os programas que tentam solucionar o problema da fome infantil, numa parceria de solidariedade social com o World Food Program da ONU. 300 milhões de crianças em todo o mundo sofrem de fome crónica e, havendo alimentos suficientes para alimentar toda a população mundial durante meio século, ainda assim a fome é causa de morte de 6 milhões de crianças anualmente, quando pode ser fornecida uma refeição escolar a uma criança com fome pela quantia irrisória de 16 cêntimos por dia.

Em 2005 os fundos recolhidos foram suficientes para alimentar 70 mil crianças em idade escolar durante um ano. Este ano mais de 300 Marchas estão agendadas em mais de 100 países de todo o mundo, estando África a bater todos os recordes com milhares de pessoas a marcharem em prol da luta contra a fome.

Tendo em vista ajudar a recolher fundos para esta causa, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados marchará em Lisboa; Sir Bob Geldof assinou tshirts e dvds que mais tarde estarão à venda no Ebay; a Ministra do Desenvolvimento Dinamarquesa marchará em Copenhaga e os atletas olímpicos da Maratona Robert Korzeniowski e Samson Ramadhani marcarão presença na Polónia.

A Marcha Contra a Fome terá este ano cenários lindíssimos como a Praça Vermelha, na Rússia; o Palácio de Versalhes, em Paris; e o Monte Kilimanjaro, na Tanzânia. As imagens irão ser difundidas por todo o mundo, com grande cobertura mediática, e depois compiladas num dvd conjuntamente com algumas fotografias.

Este ano você pode fazer a diferença e juntar-se a nós na Marcha para a erradicação da fome infantil e participar no maior desafio logístico e humanitário de sempre: ajudar a alimentar o mundo.

Locais e Hora: No dia 21 de Maio, às 10h00, na Torre de Belém (Lisboa), no Cais de Gaia (Porto), nas Portas da Cidade (Ponta Delgada) e no Peter Café Sport (Horta).

Inscrições: Balcões do BES; Lojas Sportzone; TNT; Peter’s Cafe Sport; e no próprio local no dia da partida.”

Vamos lá a arregaçar as mangas. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

12 maio 2006

No princípio, era o beijo...

Beijo (Constantin Brancusi, 1907 (1º versão), pedra, 28 cm)

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Dois troncos unidos num abraço, dois lábios que se tocam – e assim nasce um beijo selvagem, livre, provocante. Um beijo que, sem desprezar a alma, se realiza mais na carnalidade do que na sensualidade. Por isso, esta escultura nos remete para o mito das origens e nos coloca a questão: como teria sido o primeiro beijo?

Bem vistas as coisas, esta escultura é quase pura abstracção. Talhados na pedra a partir de formas básicas, de uma simplicidade absoluta, os dois protagonistas só se distinguem o suficiente para serem identificados como dois seres diferentes. Pode-se dizer que se assiste a uma estilização do humano para o tornar compreensível independentemente da cultura. Se as formas esculpidas por Brancusi são reconhecíveis e assimiláveis da Islândia às Ilhas Fiji, o mesmo já não acontece com Rodin, mais comprometido com o imaginário ocidental.

Esta escultura, que tem funções de monumento funerário, ao assumir-se como um monólito vertical sem qualquer decoração de superfície, estático e intemporal, opõe-se, formal e conceptualmente, à escultura de Rodin. O que em Rodin era uma figuração – embora tendendo já para o abstracto –, em Brancusi é uma representação simbólica do próprio beijo em si, da sua pureza e do seu carácter universal.

Reconhece-se, assim, uma importante valorização da materialidade e do carácter simbólico da arte, apanágio do século XX. Brancusi buscava a essência das coisas, sendo o misticismo e a espiritualidade duas das características das suas obras. Crescer na Roménia rural, em que alhos atrás da porta emparelhavam com o avental das mulheres, deve ter deixado as suas marcas. Dai que a sua obra se aproxime da escultura africana e oriental, mais primitiva, mais ligada ao homem e à terra.

E agora, apenas por curiosidade, deixo-vos aqui alguma informação que recolhi em várias enciclopédias relativa à simbologia e significado do beijo e da boca na arte universal.

Beijo – É o símbolo da união e da adesão mútuas que na Antiguidade assumiu um significado espiritual. No Zohar, verificamos que existe uma interpretação mística do vocábulo beijo, relacionada com o beijo divino: “Que ele me beije com beijos da sua boca”. Na verdade, beijo significa adesão de espírito a espírito, daí que o órgão corporal do beijo seja a boca. Pois é também pela boca que se dão os beijos de amor, unindo inseparavelmente espírito a espírito. Ou seja, aquele cuja alma sai ao beijar adere a um outro espírito, do qual jamais se separará. A esta união chama-se beijo.

Para Guillaume de Saint – Thierry, o beijo é o sinal da unidade.

Como dizia São Bernardo, o Espírito Santo é o beijo da boca, trocado entre o Pai e o Filho, beijo mútuo de igual para igual e reservado somente a eles. O beijo do Espírito Santo ao homem e que reproduz o beijo da Deidade trinitária é um beijo que se reproduz, que se comunica a um outro: o beijo do beijo. O homem está assim unido pelo beijo a Deus.

Sendo sinal de submissão, de concórdia, de respeito e amor, o beijo era praticado pelos iniciados ao Mistério de Ceres: pois testemunhava a sua comunhão espiritual.

Na Antiguidade, beijavam-se os pés e os joelhos dos reis, juízes, dos homens que tinham reputação de santidade e beijavam-se igualmente as estátuas, a fim de implorar a sua protecção.

Na sociedade feudal, o beijo criava inúmeras dificuldades, quando era uma dama a receber ou a prestar homenagem. Símbolo de união, o beijo guardava, de facto, a polivalência, a ambiguidade, das variadas formas de união.

Actualmente, existe ainda o costume de beijar as relíquias dos santos, expostas à veneração dos fiéis.

Boca – É o ponto de saída e fonte do sopro, da palavra e por onde também passa o alimento. É o símbolo do poder criador e da insuflação da alma. Sendo o órgão da palavra e do sopro, simboliza também um elevado grau de consciência, uma capacidade organizadora através da razão.

No entanto, como qualquer símbolo, tem o seu lado negativo. A força capaz de elevar, construir, animar e ordenar é igualmente capaz de rebaixar, destruir, matar e confundir, pois a boca derruba tão depressa como edifica os seus castelos de palavras. A boca tanto pode ser representada pelas fauces do monstro como pelos lábios do anjo; ela tanto é a porta do paraíso como a dos infernos.

No Egipto, quando alguém morria, praticava-se um rito chamado “ a abertura da boca”, destinada a preservar o corpo do defunto para que a sua alma, o Ká, sobrevivesse e desempenhasse as suas novas funções e tal era conseguido através do complexo processo de mumificação. Após este processo, a alma era submetida a um rigoroso julgamento na presença de Osíris, sobre os actos praticados durante a vida; esta cerimónia assegura ao morto a faculdade de proferir a verdade. Um disco solar colocado sobre a boca revela que a própria vida do Deus Sol, Rá, é partilhada pelo defunto. O Livro dos Mortos do Egipto antigo contém orações como esta: “ Devolve-me a minha boca para falar...”

No Sul da Gália, algumas esculturas representam umas cabeças sem boca. Tal deve-se ao facto de que, quando o file (poeta - adivinho) irlandês Morann, filho do usurpador Cairpre, nasceu, foi lançado à água por ordem do seu pai porque não tinha boca. Esta ausência de boca pode relacionar-se com a eloquência, a poesia ou a expressão do pensamento. E assim “como o cego é dotado de clarividência, também o homem sem boca é orador, o poeta de uma linguagem diferente da vulgar”.

Em muitas tradições a boca e o fogo estão associados, com dragões a vomitarem fogo, o deus-Sol, daí que Jung (um dos fundadores da moderna psiquiatria) admita uma ligação sinestésica, uma relação profunda entre boca e fogo. Como, por exemplo, as expressões “boca de incêndio” como “boca de água”. Que representam duas das características do homem: o uso da palavra e o uso do fogo. O simbolismo da boca tem a sua origem nas mesmas fontes do simbolismo do fogo e apresenta igualmente o duplo aspecto do deus indiano da manifestação, Ágni, criador e destruidor.

A boca é também o ponto de partida ou de convergência de duas direcções, simboliza a origem das oposições, dos contrários, das ambiguidades.

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

11 maio 2006

Um beijo para a eternidade

O beijo (Auguste Rodin, 1882 – 1888, ou 1886, escultura em mármore branco, 183,5 x 110,5 x 118,3 cm, exposta no Museu Rodin, em Paris).

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No princípio, há dois corpos arrancados à pedra. Com esforço, com garra, com suor. Depois, o nosso olhar percorre-os e os corpos dão lugar a duas almas entrelaçadas num abraço perpétuo, juras de amor eterno seladas com um intenso e apaixonado beijo. A esta obra, uma das mais famosas e conhecidas da história da escultura, chamou Rodin “O beijo”. Esta escultura corresponde à versão, em mármore, de um estudo datado de 1880 e inicialmente executada para pertencer à Porta do Inferno, no Vaticano. Não por acaso, os amantes retratados por Rodin são Paolo e Francesca, heróis da Divina Comédia de Dante.

De imediato nos ocorre à memória Miguel Ângelo. Porque os corpos de Rodin são também corpos com músculos, com carne, com volume – são corpos com vida, que despertam o desejo, o erotismo, o amor! Emoções que se sentem no ar, pois toda a composição em si (a posição dos corpos, a inclinação das cabeças, o toque suave dos corpos) transpira sensualidade, ao mesmo tempo tão terrena e tão etérea. E também tão reprimida, porque tão presa à pedra fria e inanimada. Talvez por isso olhemos os dois amantes e encontremos neles sentimentos tão contrários como paixão e desespero. Paixão porque existem, estão ali, podem tocar-se e beijar-se e, quem sabe?, sonhar com o amor. Desespero porque talvez saibam que são apenas pedra, talvez as suas almas jamais se fecundem porque prisioneiras do mármore – e daí a delicadeza do toque do homem, como se tivesse medo de desfazer este momento que Rodin os fez viver.

Esta escultura é claramente típica de Rodin. Lá está o pé brotando da pedra, revelando a sua marca – o inacabado como forma de arte. As formas lisas, polidas e aveludadas dos corpos, de superfícies delicadas e de doces contornos, contrapõem-se violentamente ao bloco de pedra frio, rugoso e em bruto de onde saíram e a que estão ligados – símbolo da sua união terrestre, exprimindo a ideia de que a estátua brotava da pedra. Esta associação das duas figuras ao que resta de um bloco de mármore grosseiro pretendia acentuar o contraste de textura e, consequentemente, destacar a leveza, sensualidade e carnalidade dos corpos.

“O beijo” é uma obra que define na perfeição o lugar de Rodin na história da escultura como alguém que procurou uma visão mais humanista, emocional, apaixonada e sensual do Homem. Ou seja, preocupou-se em libertar a figura humana da pedra. A beleza das formas e a sensualidade/erotismo dos corpos abandonados ao prazer servem, portanto, para situar Rodin na sua época (era o tempo do Romantismo de Jane Austen, Mary Shelley e Bram Stoker) mas, ao mesmo tempo, sugerem o seu fim. É que, ao deixar a obra inacabada e ao relacioná-la intimamente com a matéria-prima de onde era talhada, Rodin estava a abrir caminho ao abstracto na escultura!

Afinal, não são os insondáveis e etéreos caminhos do amor que procuramos na essência de um beijo?...

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

09 maio 2006

Um café, madrugada adentro...


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Uma rua, um café, o céu à noite. Podia ser em qualquer parte onde haja homens, mulheres e crianças com estados de alma para trocar. Até mesmo silêncios e olhares. Podia ser na minha Cuba natal. Naquelas longas noites de Verão quando, após um dia tórrido, o ar está sereno, empastado de uma tepidez que convida a sair de casa e ficar, madrugada adentro, em amena cavaqueira ou acenando aos meteoritos na urgência de um desejo para satisfazer. Podia ser! Mas este quadro – “Exterior de café, à noite, na Place du Forum” – foi pintado por Vicent van Gogh em Setembro de 1888, na cidade de Arles. A alma humana é universal…

A composição, à primeira vista, é dominada pela presença avassaladora do espaço de convívio. Com efeito, a fachada do café e a esplanada parece que se destacam do resto do conjunto, causam impacto no olhar. O que sobressai no primeiro plano do quadro é essa amálgama de madeira, mesas e cadeiras fortemente iluminada pela luz do candeeiro de parede e pela que vem do interior. Da alma?... Do café?...

Toda esta luz se plasma à calçada, enchendo esta parte da rua com uma claridade resplandecente. No entanto, à volta tudo é bem mais sombrio, a parca iluminação a derramar-se lá das alturas celestes e da intimidade dos lares, num contraste bem marcado e apelativo.

Olhando com mais atenção, porém, verifica-se que toda a perspectiva do quadro desvia o olhar na vertical. De facto, quer a verga da porta quer a pérgula quer, ainda, as empenas das casas puxam-nos os olhos. Chamam-nos a atenção, o que faz com que sejamos obrigados a dirigi-los para cima. E é esta direcção do olhar que vai dar origem ao contraste entre a luz e a sombra, acima mencionado.

E porquê esta opção do pintor? Apesar da imagem convidativa do café, banhado nos tons quentes do vermelho e do amarelo, creio que van Gogh procurava, no entanto, a paz do céu, a sua harmonia. Talvez relaxar o seu espírito. Tanto mais quanto sabemos que a sua vida foi bastante difícil. Aliás, van Gogh disse uma vez: “Tenho... uma terrível necessidade... devo dizer a palavra?... de religião. Então, saio à noite e pinto as estrelas.”

Por isso, talvez na ânsia de atingir uma felicidade que a vida lhe negava, van Gogh pinta com paixão, com garra, com entusiasmo. Entrega-se totalmente ao momento e isso nota-se no traço duro, nas fortes pinceladas, corpo e alma fertilizando-se mutuamente na cavalgada das emoções.

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

04 maio 2006

Dois apelos, simplesmente!

Chama-se João Carlos e tem sete anos. Não anda a estafar ténis em loucas correrias atrás de uma bola. Nem envolve o chiar dos travões da bicicleta numa nuvem de poeira, ali, no jardim do seu bairro. E, provavelmente, este ano as praias não o verão transformar sonhos em castelos de areia. Não! Ele, o João Carlos, está preso. Refém da leucemia que o consumirá aos poucos, até nada mais lhe restar que um sorriso nos olhos, a mingua de forças impedindo-o de chegar aos lábios. Deitado numa cama do IPO há já seis meses, trava a batalha pela sua vida à custa de químicos com nomes complicados. Com isso, regateia minutos ao talhe da foice. Não chega, porque o João quer anos de vida, muitos e muitos! Para, à beira do Atlântico, fazer cumprir Portugal - como reclamava o poeta!

Por isso, sejamos solidários. Um pouco do nosso corpo em troca do futuro. Excelente negócio, digo eu! Uns centímetros cúbicos da nossa medula óssea a viajar para a imortalidade. No corpo do João e nos que vierem depois dele. E é tão simples. Basta querer e, nesta correria em que transformámos as nossas vidas, parar uns segundos e doar uns milhares das nossas células. Eu sei que incomoda! Eu sei que, se calhar, até vai doer quando um enfermeiro nos espetar uma agulha no corpo. Eu sei que temos as compras a fazer e os putos a deixar na escola e os comboios a apanhar e a telenovela das nove a ver. O João também terá, se o deixarmos.

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Assim, para quem estiver disposto a perder uns minutinhos do seu precioso tempo, aqui fica o endereço do local de recolha:

Hospital Pulido Valente – Lumiar
Centro Nacional de Dadores de Medula (www.CHSUL.pt)
Telefone: 21 750 41 00
Horário de recolha: Segunda a Sexta, das 9h00 às 15h00

Este fim-de-semana, nova batalha na guerra à fome e à pobreza. O Banco Alimentar realiza um dos seus peditórios em 589 estabelecimentos comerciais localizados nas zonas de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Aveiro, Abrantes, S. Miguel, Setúbal, Cova da Beira, Leiria-Fátima e, pela primeira vez, nas Caldas da Rainha/Óbidos. Será que, por uns pacotes de arroz ou leite, que podem fazer a diferença entre a dignidade de uma vida ou um trambolhão na valeta, optaremos por mais uma noitada na discoteca ou por mais um DVD?...

Vá lá, vamos mostrar a fibra de que somos feitos. Fiquem bem. Vemo-nos por aí…