Nirvana poético!...
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram. (...)
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Carlos Drummond de Andrade, in “O Amor Natural” (1992)
Quem disse que o sexo, o puro sexo, não podia inspirar o que de melhor há em nós? Quem teima em levar tudo para a pose escatológica de gemidos animalescos e pénis descomunais? A fotografia e o poema não são espelhos um do outro?... Ou o poeta estaria perdidamente apaixonado por uma qualquer musa inspiradora - e daí esta hossana? Será mesmo possível sexo verdadeiro, a entrega total ao outro, sem a alquimia do amor?...
Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
4 Comments:
Pois é Jorge, mas quem sou eu para comentar coisas tã grandiosas e bonitas?
Fica bem e b.f.s. (bom fim semanal;-)).
Pedro F.
Até fiquei de boca aberta!!!Por esta não esperava!!Mas que o poema é bonito é! Já a foto mão acho nada bonita, há partes estéticamente mais perfeiras e belas no corpo da mulher!!
Susana, obrigado pela tua paciência comigo! És das raras pessoas que comenta os meus escritos...
Quanto à estética de certas partes do corpo, talvez esteja de acordo contigo, talvez não. Cada um tem os seus gostos. Repara, no entanto, que o poema é especificamente sobre o clitóris e o prazer nirvânico que ele pode proporcionar. Uma outra fotografia destoava completamente. Não é que eu goste dela, mas foi a única decente que arranjei. Já ando em pesquisa, de lupa na mão, a ver se acho outra mais subtil e artística.
Beijinhos
Jorge
Jorge
Manuel Bandeira era amigo do CDA e foi um dos poetas brasileiros mais admirados da geração da semana de arte moderna de 1922. Tem um estilo simples e direto. Aborda temáticas cotidianas e universais. Como bom poeta modernista, alcunha que detestava, trabalhou com formas que a tradição acadêmica considera vulgares.A melancolia e a angústia permeiam sua obra.Tuberculoso, numa época em que este mal era praticamente incurável , sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra. A morte quase está sempre presente em seus versos.
Para ouvi-lo recitando seus prórios poemas vá no
http://images.livrariapasargada.multiply.com/song/1/2/full/U2FsdGVkX1,NVDHC6P.Z863.IyQPMENPjFfiUuU77Y79l4DwUdaC.L17otL,m3AG/Manuel%20Bandeira.
Um abraço
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