Tibiezas
Nas manhãs da RTP 1, o programa "Bom Dia, Portugal" puxa os galões de serviço público numa rubrica intitulada "Bom Português". Dá-se um exemplo de uma palavra ou expressão nas versões correcta e errada. Depois, a reportagem do nosso (des)conhecimento, o microfone pelas ruas e, hélas!, afinal não é o desastre que se podia prever. Bem, há uma coisa chamada montagem... Mas acredito que a maior parte das entrevistas não envergonhe ninguém. Depois, a correcção do T.P.C. Sempre dá para tirar umas dúvidas íntimas que nem às paredes confessamos - pois, como é sabido, elas têm ouvidos!
Um dia destes, o problema proposta era escolher entre "maquilhagem" e "maquiagem". Qual a dificuldade? Eu e quantos milhões de cidadãos como eu a quem foi ensinada a língua de Camões, poderíamos jurar a pés juntos que "maquiagem" deve ser acidente de quem está com muita pressa e se esqueceu de carregar nas teclas e rever o texto. Embora a TV estivesse sem som - no meu prédio dorme-se até às tantas, a gozar merecidas reformas -, o movimento dos lábios de quem respondia levou um sorriso aos meus. Pois claro! Então não era óbvio? Parece que não... Sobre o fundo azul dos mares por Camões cantados, em vez de aparecer um tracinho "nike" verde e uma cruzinha vermelha, esbugalhei os olhos, esfreguei-os, pisquei-os; até revi o que fizera nessa noite, não se fosse dar o caso de ter bebido uns copitos! Mas não! Eram mesmo dois tracinhos. A douta explicação, naquele habitual tom de mestre-escola, não a ouvi - o gozo das reformas assim o dita. Adivinho, no entanto, uns salamaleques com traços de samba que a nossa Academia das Ciências resolveu encenar no seu tão volumoso quanto inútil Dicionário.
De facto, "maquiagem" é a corruptela brasileira de "maquilhagem". Nada contra, desde que se lhe dê bom uso lá onde viu a luz do dia. E se pensam em acusar-me de xenófobo ou inimigo da diversidade cultural, pois fazem muito bem - ou muito mal. Nestas questões do ler e do escrever, sou intransigente: neste jardim à beira-mar plantado, por favor, fale-se o português que nos ensinaram nos bancos da escola, sem concessões a facilidades ou modas. Não deve ser por acaso que, nos programas informáticos e na Internet, se dá a escolher entre Português de Portugal e do Brasil - é o reconhecimento ímplicito da tal diversidade cultural, o abraçar de duas maneiras diferentes mas legítimas de amar as palavras e os outros.
E se os nossos irmãos do outro lado do mar defendem o seu património linguístico com unhas e dentes, porque diabo havemos nós de nos acagaçar, de nos diminuirmos aos nossos olhos e do mundo, em nome de uma parolice politicamente correcta? Será que é recuando no fundamental que estamos a pensar atingir lugar cimeiro no concerto das nações? No mundo globalizado que está a nascer, os países terão que se afirmar pelas suas especificidades, pelo que de vero lhes corre nas veias. Defender o nosso modo de falar e escrever, com toda a coragem e determinação possíveis, pode não ser uma questão de sobrevivência, mas é um factor vital para a nossa auto-estima, numa sempre renovada afirmação de identidade e orgulho nacionais. Deixemo-nos, pois, de tibiezas!
Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
Um dia destes, o problema proposta era escolher entre "maquilhagem" e "maquiagem". Qual a dificuldade? Eu e quantos milhões de cidadãos como eu a quem foi ensinada a língua de Camões, poderíamos jurar a pés juntos que "maquiagem" deve ser acidente de quem está com muita pressa e se esqueceu de carregar nas teclas e rever o texto. Embora a TV estivesse sem som - no meu prédio dorme-se até às tantas, a gozar merecidas reformas -, o movimento dos lábios de quem respondia levou um sorriso aos meus. Pois claro! Então não era óbvio? Parece que não... Sobre o fundo azul dos mares por Camões cantados, em vez de aparecer um tracinho "nike" verde e uma cruzinha vermelha, esbugalhei os olhos, esfreguei-os, pisquei-os; até revi o que fizera nessa noite, não se fosse dar o caso de ter bebido uns copitos! Mas não! Eram mesmo dois tracinhos. A douta explicação, naquele habitual tom de mestre-escola, não a ouvi - o gozo das reformas assim o dita. Adivinho, no entanto, uns salamaleques com traços de samba que a nossa Academia das Ciências resolveu encenar no seu tão volumoso quanto inútil Dicionário.
De facto, "maquiagem" é a corruptela brasileira de "maquilhagem". Nada contra, desde que se lhe dê bom uso lá onde viu a luz do dia. E se pensam em acusar-me de xenófobo ou inimigo da diversidade cultural, pois fazem muito bem - ou muito mal. Nestas questões do ler e do escrever, sou intransigente: neste jardim à beira-mar plantado, por favor, fale-se o português que nos ensinaram nos bancos da escola, sem concessões a facilidades ou modas. Não deve ser por acaso que, nos programas informáticos e na Internet, se dá a escolher entre Português de Portugal e do Brasil - é o reconhecimento ímplicito da tal diversidade cultural, o abraçar de duas maneiras diferentes mas legítimas de amar as palavras e os outros.
E se os nossos irmãos do outro lado do mar defendem o seu património linguístico com unhas e dentes, porque diabo havemos nós de nos acagaçar, de nos diminuirmos aos nossos olhos e do mundo, em nome de uma parolice politicamente correcta? Será que é recuando no fundamental que estamos a pensar atingir lugar cimeiro no concerto das nações? No mundo globalizado que está a nascer, os países terão que se afirmar pelas suas especificidades, pelo que de vero lhes corre nas veias. Defender o nosso modo de falar e escrever, com toda a coragem e determinação possíveis, pode não ser uma questão de sobrevivência, mas é um factor vital para a nossa auto-estima, numa sempre renovada afirmação de identidade e orgulho nacionais. Deixemo-nos, pois, de tibiezas!
Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
2 Comments:
pois é jó o povo português infelizmente tem este defeito, deviamos defender com mais força o q é nosso e n estar só "preocupados" se o sporting ou o benfica ganham...
Boa Jorge! Continua 'tou gosstando;-)
Pedro F.
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