Auto-retrato por alheias palavras
Passos da cruz
...
VII
Fosse eu apenas, não sei onde ou como,
Uma coisa existente sem viver
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu doirado assomo...
Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de não pertencer
Meu intuito gloríola com ter
A árvore do meu uso o único pomo...
Fosse eu uma metáfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,
Mas doente e, num crepúsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na última tarde de um império em chamas...
...
X
Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e através estranhos ritos
De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito...
Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma coisa de alma do que é meu.
Narrei-me à sombra e não me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido.
(Fernando Pessoa)
Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
3 Comments:
gosto bastante de fernando pessoa... :)
Beijos da tua amante favorita!!!
não gosto de ver esta foto aqui, n tem nada haver com o jó q eu conheço !!! toca lá a por uma foto lindona d "voçemessê" a rir....
Gosto bastante de te visitar e deliciar-me com as tuas rubricas de cinema ou com meros devaneios sobre tudo e sobre nada.
Abraço
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