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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

11 maio 2006

Um beijo para a eternidade

O beijo (Auguste Rodin, 1882 – 1888, ou 1886, escultura em mármore branco, 183,5 x 110,5 x 118,3 cm, exposta no Museu Rodin, em Paris).

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No princípio, há dois corpos arrancados à pedra. Com esforço, com garra, com suor. Depois, o nosso olhar percorre-os e os corpos dão lugar a duas almas entrelaçadas num abraço perpétuo, juras de amor eterno seladas com um intenso e apaixonado beijo. A esta obra, uma das mais famosas e conhecidas da história da escultura, chamou Rodin “O beijo”. Esta escultura corresponde à versão, em mármore, de um estudo datado de 1880 e inicialmente executada para pertencer à Porta do Inferno, no Vaticano. Não por acaso, os amantes retratados por Rodin são Paolo e Francesca, heróis da Divina Comédia de Dante.

De imediato nos ocorre à memória Miguel Ângelo. Porque os corpos de Rodin são também corpos com músculos, com carne, com volume – são corpos com vida, que despertam o desejo, o erotismo, o amor! Emoções que se sentem no ar, pois toda a composição em si (a posição dos corpos, a inclinação das cabeças, o toque suave dos corpos) transpira sensualidade, ao mesmo tempo tão terrena e tão etérea. E também tão reprimida, porque tão presa à pedra fria e inanimada. Talvez por isso olhemos os dois amantes e encontremos neles sentimentos tão contrários como paixão e desespero. Paixão porque existem, estão ali, podem tocar-se e beijar-se e, quem sabe?, sonhar com o amor. Desespero porque talvez saibam que são apenas pedra, talvez as suas almas jamais se fecundem porque prisioneiras do mármore – e daí a delicadeza do toque do homem, como se tivesse medo de desfazer este momento que Rodin os fez viver.

Esta escultura é claramente típica de Rodin. Lá está o pé brotando da pedra, revelando a sua marca – o inacabado como forma de arte. As formas lisas, polidas e aveludadas dos corpos, de superfícies delicadas e de doces contornos, contrapõem-se violentamente ao bloco de pedra frio, rugoso e em bruto de onde saíram e a que estão ligados – símbolo da sua união terrestre, exprimindo a ideia de que a estátua brotava da pedra. Esta associação das duas figuras ao que resta de um bloco de mármore grosseiro pretendia acentuar o contraste de textura e, consequentemente, destacar a leveza, sensualidade e carnalidade dos corpos.

“O beijo” é uma obra que define na perfeição o lugar de Rodin na história da escultura como alguém que procurou uma visão mais humanista, emocional, apaixonada e sensual do Homem. Ou seja, preocupou-se em libertar a figura humana da pedra. A beleza das formas e a sensualidade/erotismo dos corpos abandonados ao prazer servem, portanto, para situar Rodin na sua época (era o tempo do Romantismo de Jane Austen, Mary Shelley e Bram Stoker) mas, ao mesmo tempo, sugerem o seu fim. É que, ao deixar a obra inacabada e ao relacioná-la intimamente com a matéria-prima de onde era talhada, Rodin estava a abrir caminho ao abstracto na escultura!

Afinal, não são os insondáveis e etéreos caminhos do amor que procuramos na essência de um beijo?...

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns,rapaz, gostei muito!
Aposto que sonhaste, depois de o escrever, que os amantes, a dada altura, interrompiam a eternidade por um preve instante, rodavam as cabeças, e te davam uma piscadela de olho, voltando depois à pedra implacável.
Abraço!
Ric

quinta-feira, 11 maio, 2006  
Blogger susana said...

Está espectacular!Digno de ser publicado!! beijocas

sexta-feira, 12 maio, 2006  
Blogger Martina Gamba Tanga Cardamomos said...

eu vi este beijo ao vivo, e eles nunca mais acabam de dá-lo... fiquei a olhar... e eles nunca mais acabavam... tive inveja, tive vontade, e então... tirei uma fotografia. ihihihi
Beijo o meu capitão!

quinta-feira, 18 maio, 2006  

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