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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

26 agosto 2017

OS SETE PILARES DA SABEDORIA

O poema que se segue abre a monumental autobiografia de Thomas Edward Lawrence ("Os sete pilares da sabedoria", que deu origem a essa obra-prima que é "Lawrence da Arábia", de David Lean) é uma das mais belas declarações de amor jamais escritas. Mas é, também, uma das mais pungentes e dolorosas renúncias a esse descompassado bater de corações.

Foto de Jorge Vargas.Nota prévia: O poema é encimado por uma dedicatória ("To S.A.") que, até hoje, tem feito correr rios de tinta. Ainda não se chegou a uma conclusão sobre se significa "To Saudi Arabia" ou "To Selim Ahmed" (“Dahoum”), um dos órfãos ao serviço de Lawrence, no deserto. Ainda por cima, na edição portuguesa consta "A S.A.", o que faz logo pensar numa dedicatória a Sua Alteza, o Príncipe Faisal, filho do futuro rei da Arábia Saudita e por quem Lawrence nutria sentimentos controversos, para não ir mais longe...

A S.A.

Amei-te, e por isso tomei nas minhas mãos esta maré de homens,
e escrevi a minha vontade em estrelas pelo céu.
Para te dar a liberdade, essa preciosa casa de sete pilares,
para que os teus olhos me fitassem, brilhantes,
Quando chegássemos.

A morte parecia servir-me, no caminho, até nos aproximarmos
e te vermos à espera:
Quando sorriste, ela, cheia de inveja, ultrapassou-me
e levou-te consigo:
Para o seu silêncio.

O amor, fatigado da jornada, procurou o teu corpo, nossa breve
recompensa, enquanto nossa,
Antes que a mão macia da terra explorasse as tuas formas,
e os vermes cegos se alimentassem
Da tua substância.

Pediram-me os homens que erguesse a nossa obra, a casa
inviolada, em memória de ti.
Mas, porque não era o monumento adequado, despedacei-a,
inacabada: e agora
pequenos seres rastejam no silêncio, construindo choupanas
na sombra arruinada
Da dádiva que eu te destinava."

Thomas Edward Lawrence, in "Os sete pilares da sabedoria" (1935)