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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

21 maio 2006

I have a dream!

Lá no serviço, as sextas-feiras são o ponto alto da semana. Claro que a perspectiva de um merecido descanso de dois dias ajuda à festa. Mas o que, na tão feliz quanto insólita expressão de um de nós, nos traz "com a cona aos saltos" desde a tarde de quinta-feira é o ritual dos almoços na Rosinha, um restaurante ali para os lados do Cais do Sodré. Qual antiga sirene de fábrica, o ponteiro do relógio a raiar o meio-dia e saltamos das cadeiras, as frases e os cálculos deixados a meio, que isto de comes e bebes é sagrado e tem as suas horas...

Os queijinhos frescos encharcados em sal e pimenta, os torresmos, os "jaquinzinhos" fritos, as azeitonas em azeite, o pão leve e fofo, os "penaltys" de vinho da casa, as asneiradas encavalitadas umas nas outras, os chocos grelhados, o estado da Nação entremeado de um farto bacalhau com grãos, o bife à Rosinha, o arroz doce e os pudins - e, para serenar estômagos, um café com cheirinho de uma deliciosa e levitante aguardente de ervas que nos dá a ilusão de termos nos braços todas as mulheres com que sonhámos a cada garfada!

Adoro estes momentos de camaradagem e abandono à conversa vadia e marialva. Para quem se rotinou no esquema casa-trabalho, os almoços na Rosinha são fugas de mim mesmo, de uma realidade cinzenta sempre igual a si própria. Assim, ponho na mesa os 14 euros de cada comezaina com o mesmo vigor e entusiasmo de um jogador de bisca lambida.

Hoje, todavia, dia de Marcha Mundial Contra a Fome, pus-me a fazer contas. Entre os cinco, gastamos cerca de 70 euros por semana, 280 euros por mês em números redondos. Ora, segundo dados da ONU, custa 16 cêntimos por dia fornecer uma refeição escolar a uma criança com fome, qualquer coisa como 60 euros por ano. Se, durante um mês - um instante para nós, uma eternidade fatal para crianças famintas -, abdicássemos destas idas à Rosinha, poderíamos rasgar umas cinco fotografias como esta!

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Mas bem pode pregar Frei Tomás! O problema da pobreza, da fome e da prostituição infantil assentam todos na mesma raiz: a cupidez humana, o nosso congénito egoísmo. Queremos sempre mais... e, muitas vezes, mais do que aquilo que podemos ter. Apesar disso, a esperança habita-me. Acredito que é possível mudar o Mundo. Afinal, ainda há pouco mais de 60 anos parecia que tudo isto estava a caminho do esgoto e hoje, ninguém pode negá-lo, estamos incomparavelmente melhor. Em termos de assistência médica, em termos de desenvolvimento humano – mas, sobretudo, em termos de consciência humanitária. Há 60 anos, poucas pessoas se preocupavam com o que acontecia fora do seu quintal. Hoje, temos marchas contra a fome, a nível mundial. As pessoas despertaram, começam a aperceber-se de que, tal como diz o “slogan” do Rock in Rio, um mundo melhor é possível. Acredito nisso com todas as minhas forças e faço tudo o que está ao meu alcance para a concretização desse sonho colectivo. Afinal, é tão fácil: meio pão das mesas da Rosinha por dia!

Juntai-vos a mim no florescimento desta utopia!

Fiquem bem. Vemo-nos por aí…

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Te apoio completamente (e não será por que não participo em tais tertúlias), ...mas que há qq. coisa de errado no mundo lá isso há!

Pedro F.

segunda-feira, 22 maio, 2006  
Blogger susana said...

Até me vieram as lágrimas aos olhos!!Logo tu a quem a vida não sorriu, preocupares-te com as desgraças do Mundo!
Olha eu tenho um cartão que dei vinte euros que serviu para ajudar uma data de instituições e ainda no outro dia comprei um bonequito nos correios, para ajudar crianças deficientes, sinto-me menos culpada, mas não totalmente isenta!!Devíamos fazer mais!!
beijos coração de ouro

terça-feira, 23 maio, 2006  
Blogger Jorge Vargas said...

Sabes, Susana, um oceano não é uma massa de água, mas sim um conjunto infinito de pequenas gotículas. Que, juntas, lhe conferem poder e majestade. Acontece o mesmo connosco. Não negando a eficácia das grandes iniciativas, é com pequenos gestos como o teu que o Mundo se poderá vir a meter nos eixos. Imagina os teus 20 vinte euros e imagina 1 milhão de portugueses a comprar esse cartão. A parada sobe logo para 20 milhões de euros... :-)

E já pensaste que quem sofre na pele as asperezas da vida é quem a ama mais e a quer dar aos outros. Eu sou assim desde que me conheço... Porque eu AMO este planeta e os seres que o habitam!

Sinceramente, Susana, temos mesm que combinar beber um copo!

Beijinhos também para ti!

Jorge

terça-feira, 23 maio, 2006  
Blogger Jorge Vargas said...

Deus no purgatório, não partilho da tua descrença no homem! É verdade o que dizes, mas a evolução presenteou-nos também com atributos notáveis que, creio, levarão a melhor sobre o complexo reptiliano do nosso cérebro: o amor pelos nossos filhos e pelos filhos dos nossos filhos, a compaixão pelos outros e uma curiosidade insaciável que nos fez ir cada vez mais longe. Penso que serão estes os traços da nossa personalidade que prevalecerão no futuro! Apesar de Deus se ter remetido para o Purgatório...

Um abração

Jorge

terça-feira, 23 maio, 2006  
Blogger Polly Jean said...

Tenho tido diversos impulsos para ajudar. Tenho ajudado, e não tenho sido muito seguida nos meus esforços. Apadrinhei um menino...vd meu post 18 de Maio de 2006, ajudar mumemo.
Obrigada a pessoas como tu.

quarta-feira, 24 maio, 2006  

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