Politicamente (in)correcto 2
Desde que o Governo francês proibiu o uso do véu islâmico nas escolas públicas – e a bondade ou malvadez da decisão não é para aqui chamada -, intelectuais de todos os quadrantes não resistiram a pregar-nos as virtudes de tão versátil peça de vestuário. É sempre a mesma cantiga: a diversidade cultural como seguro de vida da espécie humana, a tolerância ante as idiossincrasias de cada povo, o respeito pelas tradições e costumes alheios.
Concordo e assino de cruz. Dos caretos das aldeias beirãs ao "Conde de Maio" na Letónia, aqui se revela todo um programa de resistência à uniformização cultural em curso. E, mais significativo, um esforço para a manutenção da identidade de cada povo ou nação, mormente quando os ventos da História sopram do lado da Lua.
E, contudo, a questão impõe-se: qual o elo comum entre o cante alentejano e uma dança boiarda? Descontando o peso do social, são actos livres. A que se adere voluntariamente. Tão voluntariamente que alguns desses costumes estão em risco de extinção!
A diferença é abissal. O uso do véu ou a excisão feminina (1) nada têm de tradição. Não são escolhas, são imposições. Uma tirania dos mais fortes e virtuosos sobre os fracos e ímpios. Pois não se está mesmo a ver? Todos os homens são uns santos e as mulheres só pensam nas mil e uma maneiras de os desencaminhar do justo caminho. Um pescoco ao léu é, claro está, um convite sem prazo de validade. E, já se sabe, a carne é fraca… Só ainda não percebi qual!
Ah!, já alguém se lembrou de perguntar a opinião das mulheres? Em saber qual a sua escolha, livre e consciente?… Olha que boa ideia para um referendo! Quer dizer, se os sheiks, imãs, ayatolahs e companhia deixassem.
Fiquem bem. Vemo-nos por aí…
(1) – Ou, noutro plano, a circuncisão masculina.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home