O FILME DO DIA - Imperdoável
Imperdoável/Unforgiven (EUA, 1992, cor/2.35:1, 131m, 5) de Clint Eastwood com Clint Eastwood, Morgan Freeman, Gene Hackman, Richard Harris, Frances Fisher (Canal Hollywood, 21h00).
Em 1992, quando estreou, este Imperdoável fez figura de OVNI. No meio da parafernália dos efeitos especiais e das comédias idiotas para adolescentes, aparecia um filme erguido sobre os cânones clássicos: primado dos actores, argumento sólido, planos que respiram o tempo suficiente para nos irmanarmos com a trama do filme, no mais clássico dos géneros do cinema americano. O “western”, pois claro! Só que, entretanto, tinha acontecido a guerra do Vietname, o Golfo Pérsico continuava em chamas e a Rússia abeirava-se de um ataque de nervos. E, é bom não esquecer, Sam Peckimpah tinha assinado a certidão de óbito dos heróis impolutos e idealistas com Os pistoleiros da noite/Ride the high country (1962) e A quadrilha selvagem/The wild bunch (1969).
Nesta perspectiva, Imperdoável não podia ser senão a descida aos infernos que é. O que sabemos de William Munny (Clint Eastwood) resume-se ao melancólico plano de abertura: uma casa na pradaria, dois filhos, uma árvore sob a qual ergueu a campa da esposa. E, a bordejar o horizonte, o Sol no esplendor do ocaso. Sabemo-lo depois, quando uns canalhas espancam uma prostituta e, perante a bonomia de um xerife tão violento e despido de ética como os agressores, lhe vêm pedir que faça de anjo vingador, William Munny foi também um caçador de prémios. Mau como as cobras! O passado, por muito que se o atire para trás das costas, arranja sempre maneira de nos encurralar. William aceita esta “missão”, uma orgia de violência que é não só um ajuste de contas com o passado como a derradeira hipótese de redenção. E, neste tempo sem heróis, quando a poeira assenta e se varre o sangue das ruas, já não há silhuetas a bordejar o ocaso. Há uma casa na pradaria a que se regressa!
Obra-prima absoluta de Eastwood, Imperdoável ganhou quatro “Oscars”: melhor filme, melhor realizador, melhor actor secundário (Gene Hackman) e melhor montagem.
Outras sugestões:
- A mão que embala o berço/The hand that rocks the cradle (EUA, 1992, cor/1.85:1, 110m, 4) de Curtis Hanson com Annabella Sciorra, Rebecca De Mornay, Matt McCoy, Ernie Hudson, Julianne Moore.
- Lolita (EUA/GB, 1962, pb/1.66:1, 152m, 5) de Stanley Kubrick com James Mason, Shelley Winters, Sue Lyon, Gary Cockrell, Jerry Stovin.
- Alice (EUA, 1990, cor/1.85:1, 102m, 5) de Woody Allen com Mia Farrow, Alec Baldwin, Blythe Danner, Judy Davis, William Hurt, Joe Mantegna, Cybill Shepherd.
Bons filmes. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
Em 1992, quando estreou, este Imperdoável fez figura de OVNI. No meio da parafernália dos efeitos especiais e das comédias idiotas para adolescentes, aparecia um filme erguido sobre os cânones clássicos: primado dos actores, argumento sólido, planos que respiram o tempo suficiente para nos irmanarmos com a trama do filme, no mais clássico dos géneros do cinema americano. O “western”, pois claro! Só que, entretanto, tinha acontecido a guerra do Vietname, o Golfo Pérsico continuava em chamas e a Rússia abeirava-se de um ataque de nervos. E, é bom não esquecer, Sam Peckimpah tinha assinado a certidão de óbito dos heróis impolutos e idealistas com Os pistoleiros da noite/Ride the high country (1962) e A quadrilha selvagem/The wild bunch (1969).
Nesta perspectiva, Imperdoável não podia ser senão a descida aos infernos que é. O que sabemos de William Munny (Clint Eastwood) resume-se ao melancólico plano de abertura: uma casa na pradaria, dois filhos, uma árvore sob a qual ergueu a campa da esposa. E, a bordejar o horizonte, o Sol no esplendor do ocaso. Sabemo-lo depois, quando uns canalhas espancam uma prostituta e, perante a bonomia de um xerife tão violento e despido de ética como os agressores, lhe vêm pedir que faça de anjo vingador, William Munny foi também um caçador de prémios. Mau como as cobras! O passado, por muito que se o atire para trás das costas, arranja sempre maneira de nos encurralar. William aceita esta “missão”, uma orgia de violência que é não só um ajuste de contas com o passado como a derradeira hipótese de redenção. E, neste tempo sem heróis, quando a poeira assenta e se varre o sangue das ruas, já não há silhuetas a bordejar o ocaso. Há uma casa na pradaria a que se regressa!
Obra-prima absoluta de Eastwood, Imperdoável ganhou quatro “Oscars”: melhor filme, melhor realizador, melhor actor secundário (Gene Hackman) e melhor montagem.
Outras sugestões:
- A mão que embala o berço/The hand that rocks the cradle (EUA, 1992, cor/1.85:1, 110m, 4) de Curtis Hanson com Annabella Sciorra, Rebecca De Mornay, Matt McCoy, Ernie Hudson, Julianne Moore.
- Lolita (EUA/GB, 1962, pb/1.66:1, 152m, 5) de Stanley Kubrick com James Mason, Shelley Winters, Sue Lyon, Gary Cockrell, Jerry Stovin.
- Alice (EUA, 1990, cor/1.85:1, 102m, 5) de Woody Allen com Mia Farrow, Alec Baldwin, Blythe Danner, Judy Davis, William Hurt, Joe Mantegna, Cybill Shepherd.
Bons filmes. Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
4 Comments:
Ganda filme. E passando ao lado do actor principal, prefiro o R. Duval ao G. Hackman... ver o recorrente 'Lonesome Dove':
http://www.imdb.com/title/tt0108839/
Abraço
pedro f.
Perdão pela gralha;-)...
o filme q eu queria referenciar(série televisiva que já passou há uns anos na nossa tv), com o R. Duvall e T. Lee Jones, é do Simon Wincer e de 1989...aqui:
http://www.imdb.com/title/tt0096639
pedro f.
Jorge admiro a tua veia revivalista!Eu gosto e aprecio as coisas do passado, mas não fico presa a elas.Parece-me que de certa forma te encerraste no passado e "ignoras" quase tudo no presente.Este filme realmente é bom, mas tanbém há outros muitos bons hoje em dia.Devias actualizar-te mais!!
beijocas
Make my day...ehehehehe!
Susana, o que motivou a escrever este pequeno comentário não tem a ver com revivalismo, é muito mais prosaico: o filme ia passar neste dia, era o melhor filme do dia e eu quis chamar a atenção para isso. Além disso, o filme não é antigo por aí além, tem 14 anos. E, está descansada, eu ando atento ao que se faz hoje em dia. Ou não achas que "Million dollar baby" é outras das obras-primas de Eastwood, o último dos grandes realizadores clássicos?
E porque diabo será assim tão bizarro e anti-social gostar de filmes antigos? Para além do óbvio critério da qualidade, ocorre-me dizer que, se eu gostar muito e muito de Rafael, Mozart ou Tolstoi ninguém estranha. Quando se trata de cinema, gostar de Griffith, Ford, Eisentein, Tarkovsky, Godard, Fellini e etc. é meio caminho andado para nos remeterem para o grupo dos cotas, dos manga de alpaca! Estranho, muito estranho!
Beijinhos
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