Cartão vermelho!
O primeiro toque na bola, e um mar de pernas a correr para a nossa baliza, e o suor já a escorrer em bica para o soalho, e a bola a rasar o poste esquerdo, e o coração aos saltos por causa do puto, e os impropérios ao árbitro que se esqueceu do cartão vermelho no bolso, e as mãos a desalinharem cabelos, e o Maniche a furar as redes laranjas, e onde foi parar o comando?, e van der Saar ainda não acredita que a história se repete, e olhos no maldito cronómetro que ainda vai nos 23 minutos, e o Pauleta que teve o segundo nos pés, e as lágrimas do Ronaldo feitas nossas, e o beija-mão de Costinha à bola, e ai que agora é que está tudo perdido!, chichi e litradas de água para empurrar um calmante, e eis que recomeça o jogo, e aquela bomba à trave das nossas almas, e abrem-se as bocas de espanto pela sorte que nos calhou, e o tempo que teima em vagares, e mais uma defesa do Ricardo, e o jantar que quer ruminar-se, e o árbitro que perde as estribeiras e se põe a encartar metade dos jogadores, e tenho de me queixar à farmácia da porcaria dos calmantes, e a laranja mecânica com areia na engrenagem!, e as bolas a socarem o Ricardo, e os minutos emperrados, e as molas do sofá que choram connosco, e a respectiva cobertura feita rodilha, e eu que já não sei se olhe para a bola se para o relógio, e os tugas no relvado a revelarem-se samurais, e ainda seis minutos de descontos, e mudo de canal porque já não aguento e comigo o meu coração, e mudo de novo para o jogo à espera de desgraça, e ainda ganhamos, e o tempo que não corre, e regresso ao outro canal, e desando para o jogo, e a tremideira é tal que prego com o comando no chão, e está agora no canal não sei quantos, e os dedos não acertam com o jogo, cá está!, que aconteceu?, e só vejo um montão de camisolas brancas abraçadas e aos saltos, e morro ali mesmo..., mas aquele ali não é o Felipão?, e não é mesmo!?, e o Ricardo que grita de alívio ajoelhado.., GANHÁMOS!, e afundo a exaustão no sofá, lágrimas esquecidas no fundo dos olhos..
Por esta comunhão de sofrimento e angústia entre jogadores e público, merecíamos comemorar com eles relvado fora, em correrias, abraços, gritos do ipiranga, choros desalmados entre a toalha do Eusébio e a Virgem do Caravaggio, a loucura feliz nas bancadas e nas ruas de Portugal (pois, que as pessoas também têm direito a pequenos goles de felicidade, ao contrário do que teimam certos iluminados lá do alto da auto-suficiência da sua sabedoria…). Merecíamos tudo isto e muito mais! E que nos deu a SIC? Numa palavra: lixo! Entre um sabonete e um pacote de "corn flakes", o desprezo total pelos jogadores, pelos portugueses e pelo País!
Cartão vermelho directo, pois claro!
Fiquem bem. Vemo-nos por aí…
3 Comments:
Nem o Saramago faria uma retenção de pontos finais tão habilidosa e eficaz! E não estou a gozar, acho que está excelente e bem esclarecedora do que foi o nosso último mergulho em sumo de laranja! :o)
Só me parece que acaba um pouco a correr: à primeira vista não é clara a razão da tua fúria contra a SIC. Mas depois lá se percebe...
Abaixo o Saramago! Viva o Vargas! ;o)
Abaixo o Saramago e viva o Vargas!
Tenho a mesma opinião!
Força Jorge. Com este texto fizeste-me reviver todos aqueles momentos. Gostei bastante e concordo contigo!!!
Um abraço.
Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
»
Enviar um comentário
<< Home