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Novas aventuras em mim (menor)

Aventuras em mim (menor)? Escrever é aventura, é incógnita. Viagem de dedos por sonhos, desejos, fantasias, pequenas e grandes coisas sobre mim e o mundo à minha volta. Desejo de partilha, também. De sentimentos, emoções, momentos, vivências, silêncios até. Quanto ao “menor”, é uma brincadeira, um pequeno trocadilho com a nota musical Mi menor. É, também, uma medida da minha humildade, da consciência brutal das minhas limitações como escriba.

30 junho 2006

A bandeira conspurcada

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Andou o “Expresso” semanas a fio a anunciar-se a si próprio, estampando páginas inteiras da sua edição em papel com a promessa de oferecer aos seus leitores, a 10 de Junho e como forma de apoio à Selecção Nacional de futebol, uma bandeira de Portugal em tamanho gigante. Uma parceria do “Expresso” com o Banco Espirito Santo, frisou-se até à exaustão.

Louvável e pedagógica iniciativa. Cheios de macaquinhos no sótão da História, ao longo dos últimos trinta anos fomos associando bandeira e hino a uma ideologia de repressão e terror. Amar Portugal, respeitar a bandeira, encher os pulmões de egrégios avós passou a ser sinónimo de corruptor das liberdades conquistadas em 25 de Abril de 1974, coisa de velhos jarretas que renegam o devir. E como santos da casa não fazem milagres, foi preciso um brasileiro atravessar o Atlântico para que constatássemos o óbvio: nem a bandeira nem o hino nasceram na forja da ditadura! Pelo contrário: nesses símbolos nacionais está inscrito o amor dos povos à liberdade e ao progresso (ver abaixo) e parte significativa de uma História que, boa ou má, é a nossa – e que é, juntamente com a Língua, a argamassa da nossa identidade como Nação. Por isso, deixemos as novas gerações erguer os olhos para as quinas, sem complexos nem falsos triunfalismos.

Neste contexto, sendo o “Expresso” um jornal de referência, seria de esperar o máximo cuidado possível na concretização desse projecto. O "Expresso", contudo, parece não dispor já da força anímica para escapar ao "ar do tempo", ao desleixo e ao vale-tudo contra os quais não se cansa de perorar nas suas páginas. Uma autêntica “Maria vai com as outras”; uma menina bem prendada e cheia de públicas virtudes, mas que está sempre a ver o pé fugir-lhe para o chinelo dos vícios privados.

Com efeito, a bandeira oferecida é indigna e uma ofensa a todos os portugueses. É uma bandeira conspurcada de incúria e ganância. Para começar, os castelos reais de uma bandeira real têm três torres e os escudos com as quinas são arredondados na parte inferior. Na oferta, existem ameias e escudos quadrados. Encomenda “made in China”? Sinceramente, espero que não, já que o jornal é um paladino da excelência dos produtos nacionais…

Depois, aquela bandeira não é a bandeira de Portugal. É, pura e simplesmente, a bandeira do "Expresso" e do Banco Espírito Santo. Está lá, no canto inferior direito, com todas as letras e mais alguns gatafunhos. Por mim, se não fosse uma carga de trabalhos, remeteria o objecto à procedência com uma pequena nota: "Rejeitada por defeito de fabrico". Só não veria quem não quisesse!

Protestei! Na volta do correio, chega-me a estapafúrdia resposta de que “toda esta acção, longe de ser mascarada, foi amplamente anunciada como sendo uma iniciativa conjunta do Expresso e do Banco Espírito Santo com o objectivo de incentivar o apoio de todos os portugueses à nossa selecção. Em nenhum momento quisemos com esta iniciativa desrespeitar os símbolos nacionais e continuamos a considerar que não o fizemos.”

É preciso ter lata! Nunca, em momento algum, a publicidade mostrava a pouca-vergonha que depois se viu. E mesmo que, sobre a parte da bandeira reproduzida, estivesse impressa publicidade, nenhum indivíduo bem formado e na plena posse das suas faculdades cognitivas ia imaginar que, na bandeira real, se escarrapachassem os patrocinadores da iniciativa. Era, realmente, coisa que estava para além da imaginação do comum dos mortais - excepto, claro!, para os "criativos" que vendem a alma ao diabo por uma ideia. Tão boa, tão boa, mas tão boa que ficam a olhar para o seu umbigo e a babar-se de orgulho, naquela atitude tão "soixante-huitard" tardia de que tudo é permitido desde que seja absolutamente criativo, inovador, provocante. E de óbvio mau-gosto. Último recurso de quem não tem inteligência que lhe permita expressar a sua criatividade sem ofender nem enxovalhar...

Se Lavoisier voltasse a este mundo, teria que alterar a sua célebre frase. De "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" para "Tudo se regateia, tudo se vende, nada se respeita". Espero, pois, que um pouco de lucidez e menos cifrões iluminem o caminho dos responsáveis do “Expresso”! E que não seja este o travejamento moral que queremos legar às nossas crianças. Apoiar a Selecção Nacional não é andar a escarafunchar no "bas fond" dos negócios e pregá-los na bandeira que é de todos nós!

(1) - Um pequeno aparte para vos informar que, segundo me contou um amigo meu, um vendedor ambulante, na posse de bandeiras portuguesas com publicidade a electrodomésticos, viu o seu material apreendido pela polícia, chamada por cidadãos compreensivelmente indignados. E, se houve apreensão de material pelas autoridades, estas tiveram que se fundamentar nalguma lei ou norma legal. Se este modesto comerciante não está acima da lei, porque diabo hão-de estar o "Expresso" e o Banco Espírito Santo? Imagine-se só a mesma situação a ocorrer, por exemplo, nos Estados Unidos da América!...

Fiquem bem. Vemo-nos por aí...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Jorge:
Os teus comentários estão a ficar cada vez mais oportunos e interessantes. Concordo contigo, plenamente.
Se fosse possível deixar o link do teu blog na página do expresso (numa parte qualquer de comentários), seria muito bom. Ou noutro jornal/ou página de grande audiência.
Penso que o teu blog merece uma grande audiência porque consegues fazer comentários e observações que muita gente deve sentir como seus também. É dando "audiência" a blogs como o teu que talvez se consiga mudar alguma coisa, porque já se vê que nos grandes meios de comunicação social isto não passa e existe como que uma "censura" a opiniões como esta.
Um abraço.

sexta-feira, 30 junho, 2006  
Blogger Ritinha said...

também fiquei de boca aberta quando vi a bandeira... e concordo com o Rafael - é, de facto, um post bastante pertinente e oportuno


beijinhos

segunda-feira, 03 julho, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Meu caro,
Se 5% da população deste jardim que anda tão sujo interviessem da mesma forma que tu, muito mais bonito o dito jardim ficaria...
Concordo totalmente. E até vou mais longe: o Expresso merecia um abanão nas vendas, para perceber onde é que se devem traçar certos limites. Mas talvez isso aconteça em breve...
Ric

segunda-feira, 03 julho, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
»

sábado, 22 julho, 2006  

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