Reencontrar o caminho das palavras
Quase um ano! Ausente. De mim, de vós, de ti... bazar da vida entregue à tua própria solidão. Um viver sem respirar, batidas de coração que clamam pela morte. Como deves sofrer, como deves odiar-me por este virar de costas que te foi empurrando, mais e mais, para um vazio de palavras! Eu sei, eu sei... tens fome e sede e o deserto não tem miragens nem óasis... Apenas esta areia escaldante que se faz duna, e montanha, e precipício - e se desfaz em lágrimas secas que gritam a tua revolta a cada solavanco dos ventos...
Olha, sabes?, de vez em quando perguntam-me por ti. Tu conhece-los: o Ricky, a Inês, a Zé, o Rafael, a Vera, o António... até mesmo o Joaquim, que te fazia seres um pãozinho quente pela manhã! E eu, que te dei ao mundo, enterro os ombros no meu desnorte e esboço o sorriso amarelo com que te prego ainda mais à tua cruz. Não merecias tal désdita. Tu foste sonho feliz nos meus olhos, aventura desfraldada na ponta dos meus dedos. Quisemos o horizonte e esporeámos a imaginação, medos e fantasmas enfiados debaixo do braço. Desculpa! Tu, assim é que está certo, ousaste tocar o Sol. Eu, eu acagacei-me e desterrei-me para parte incerta de glacial nenhures, agrilhoado a catacumbas bafientas e lúgubres que atamacam sentimentos, secam emoções, calam vivências que se querem partilhadas... Até o silêncio se faz morto por estas paragens!
Mas sempre o filho pródigo à casa torna. Filho que é também pai: o teu! Peço-te - e peço-me - que abras a porta e me deixes abrir-te o alforge onde me fui guardando para ti. Não tenho ouro nem cordeiros para fazermos a festa do regresso. Olho, remexo lá bem no fundo e trago na mão apenas esperança e desejo. De reencontrar o caminho das palavras, esses rebentos de Tágides minhas que de mim se apartaram, essas ilhas de amores desencontrados que me fervem o sangue e me empurram para ti. Sim! Para, juntos, testemunharmos o milagre da nossa ressureição. Afinal, já a brisa da tarde é beijo de Tágides minhas que a mim retornam, já o beijo é estalada forte a incitar ao caminho. E como este se faz caminhando, parta-se e caminhe-se, enfrentando cada curva, guardando cada pedra do castelo futuro que Pessoa prometeu construir em cada um de nós! Por agora, viajemos pela poesia de António Ramos Rosa, nesta ode às promessas que as palavras em si guardam...
As palavras e o desejo
Por vezes perdem a sombre
e rodam pálidas sem a seiva do vento
Raramente vêm carregadas de frutos, de pedras e flores
ou apenas do seu silêncio de fogo.
Quando as línguas indolentes nos envolvem
na espuma das suas sílabas
é que os olhos do mundo nos olham através das imagens
e o enigma se aproxima silencioso e cúmplice
do nosso abandono deslumbrado
no volume côncavo do tempo.
Mas por vezes as palavras já não reflectem qualquer luz
e descem por escadas negras
até às primeiras águas e às redondas sombras
em que o silêncio é o puro silêncio sem imagens.
E como nem só de versos nos alimentamos, eis um blogue que conheci através do “Expresso”:
http://expresso.clix.pt/COMUNIDADE/blogs/sinais_vitais/.
Um médico a meter os pés pelo Oriente e o resultado é um monumental fresco da condição humana, poderoso na captação dos mais ínfimos pormenores, poético no amor pelas vidas que à sua frente se mostram. Ou será ao contrário?
Fiquem bem. Vemo-nos por aí...
10 Comments:
é bom ver-te por aqui, e ler-te e mergulhar nesses teus sonhos cheios de viagens, de alegria, paixão... e ao fundo sentir uma gargalhada tão tua.
Até que enfim temos o regresso do Jorge, no seu melhor...
Lindo como sempre:) O Jorge, está de volta:D
Irra, até que enfim decidiste desenterrar a cabeça do teu real traseiro e recomeçar o que tão bem sabes fazer!
Gosto de te ler outra vez... espero que desta vez seja para continuares.
Abraço grande.
É smp de saudar o regresso em grande forma do Jorge.
Continua...
Um grande abraço.
José Pestana
querido jorge: que feliz fico por esse reencontrar do caminho das palavras. Muitas vezes penso no teu exemplo de integridade, de como nos momentos em que conversei contigo eu senti a paz que só é possível sentir quando estamos ao lado de um homem justo. Reencontrares os caminhos das palavras é para mim um alívio, pois é saber-te de novo vivo e a partilhar connosco essa tua sede de esperança e de fraternidade que nos coloca no centro do que é realmente importante. Teu amigo Zef
Grande gáudio voltar a ler o Jorge com o seu grande talento. Fico aguardando continuação!
Grande abraço
M.Albuquerque
… o que dizer? Obrigada por só me teres feito esperar um mês… Que foste um querido…Que és um querido… Que é um prazer ler o que tu escreves e, principalmente, que espero não esperar, nunca mais, um mês inteiro! Beijos, Zé
Acabou-se o descanso!
Este iconoclasta soltou-se e está livre!
Fechem as vossas filhas, as vossas consciências e as vossas distracções! Ele não dá quartel!
Farta cabeleira ao vento, castigador e implacável,
move-o um telúrico alento,
ele não tem nada de amável!
Nas teclas faz obras de arte,
mas anda em busca da prima.
Espero que não tenha um enfarte,
Quando ela lhe cair em cima!
Assinado:
Um admirador columbófilo
Pensei que fosse aponsentadoria!!!!
Fico feliz pelo seu regresso e em grande estlo. D+
Marcos (diretamente do Brasil)
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